O que Tamera, em Portugal, e Morro Agudo, no Brasil, têm em comum?
Anualmente testemunhamos eventos climáticos extremos ao redor do mundo. Este ano, por exemplo, vimos a Europa enfrentar ondas de calor aterrorizantes que causam, entre outros, incêndios que consomem territórios e vidas que nos faz lembrar que o aquecimento global é real e já influencia severamente as nossas vidas.
A maioria das crises globais, sobretudo as relacionadas com a água, tais como: escassez de água, secas, desertificação, inundações, aumento do nível do mar e alterações climáticas são sintomas de uma prolongada gestão danosa das águas pluviais e da vegetação. Por outro lado, a água é um elemento essencial que nos permite encontrar uma solução rápida e eficiente para a catástrofe climática à escala global.
Portugal é um dos países que mais sofre as consequências das alterações climáticas. Segundo a base de dados nacional de incêndios rurais, no período entre 1 de janeiro e 15 de setembro de 2023, ocorreram 7.097 incêndios rurais, 33.003 hectares de áreas queimadas. Outro dado alarmante é divulgado pelo World Resources Institute (WRI) que prevê que em 2040, 26 países no mundo enfrentarão ‘risco elevado’ de stress hídrico. Portugal é um deles.
Curiosamente, é precisamente em Portugal que se encontra um exemplo de combate às alterações climáticas que está prosperando na região do Alentejo, onde se registram mais secas no país.
Tamera, um exemplo a ser seguido
Há anos, Tamera – um Centro Internacional de Pesquisa, pratica um modelo de gestão de água projetado para capturar, armazenar e infiltrar a água da chuva que devolve à propriedade o ciclo natural da água.
A Transforma.aí visitou a região pela primeira vez em 2022, quando nosso Sócio Fundador, Samuel Protetti participou de um curso sobre paisagens de retenção de água. Na altura, parte do time estava em Portugal dedicado ao trabalho desenvolvido com a Casa do Impacto, nossa primeira parceira no país (leia aqui artigo específico sobre o tema).
Agora foi a vez de duas educadoras ambientais da equipe Transforma.aí voltarem à Tamera para realizar a mesma formação. Ambas integram aqui no Brasil o projeto Gente Cuidando das Águas, da Nexa Resource, que já é um case de sucesso na região de Morro Agudo-MG pela capacidade de aumentar o volume d’água do córrego do Batuque e sensibilizar agricultores e estudantes sobre a preservação dos recursos hídricos do território, inclusive com a aplicação de tecnologias que fazem parte das paisagens de retenção de água que agora elas estão se aprofundando em Tamera.
Se tem uma experiência comum a todos que visitam a região, é a mudança repentina observada no cenário, mas também no clima, ao adentrar a região. “É como se de repente estivéssemos em outro país, a vegetação é outra e a umidade do ar não se compara ao que é sentido no entorno de Tamera”, comenta Vivian Moreira, coordenadora de projetos.
Abordagens inovadoras
Antes de partir para a ação, Tamera enfrentou desafios complexos relacionados à água, incluindo desertificação do solo e inundações sazonais. São essas abordagens inovadoras que têm ajudado a região a superar esses desafios e ensinar ao mundo os passos certos a seguir.
A chave para o sucesso é o manejo do ciclo d’água e para isso foram implementadas centenas de áreas de infiltração e faixas florestais na região, que captam a água da chuva e a infiltram no solo. Essa tecnologia não só ajuda na retenção da água, mas também tem um impacto positivo no microclima da região, aumentando a umidade do ar e se tornando uma poderosa aliada na luta contra as mudanças climáticas.
Nessa nossa incrível jornada de aprendizagem em Portugal, tivemos a oportunidade de conhecer ainda outras tecnologias que estão revolucionando a forma como lidamos com os desafios relacionados à água e ao solo. Abaixo, compartilhamos algumas delas e suas consequências:
Valas de infiltração: canais construídos ao longo das curvas de nível da paisagem com a função de reterem a água da chuva e permitir sua infiltração lentamente no solo, contribuindo para uma gestão eficiente da água.
Terraços: áreas planas de plantio em jardins e pomares, prevenindo a erosão e recarregando poços.
Barreiras em curva de nível: construídas com troncos no contorno das paisagens. Essas barreiras não apenas protegem a erosão do solo, mas também enriquecem a terra com matéria orgânica, promovendo a saúde do solo.
Bacias de infiltração: projetadas para coletar água da chuva ao redor da vegetação. Essas bacias têm um fundo nivelado e raso, permitindo a absorção eficiente da água no solo.
Paliçadas: barreiras permeáveis construídas em áreas onde a água naturalmente se acumula e flui. Essas estruturas retardam o fluxo da água, permitindo que ela se infiltre no solo, e ainda ajudam no combate à erosão e melhoram os corredores da vida selvagem.
Cobertura de solo: técnica que consiste em não deixar a terra descoberta, seja por semeadura ou por adição de cobertura vegetal. Tem base no princípio de que a área coberta melhora a infiltração e a retenção de água do solo.
Mais importante que as tecnologias em si, é a gestão das mesmas, desde seu planejamento até sua contínua manutenção para que não perca eficiência. Assim como em Tamara foi feito um extenso trabalho com os agricultores para que a paisagem de retenção de água se consolidasse como uma realidade prática da região, também em Minas Gerais é o que se propõe o projeto Gente Cuidando das Águas.
Nesta reta final com a Nexa Resources, foram apresentados aos agricultores participantes do projeto um planejamento de implantação e manutenção de um conjunto de tecnologias ambientais que melhor se adaptam a cada uma das propriedades, para que conjuntamente o cenário do território seja transformado.
“Nossa intenção é que esses pequenos proprietários possam gerenciar seus recursos hídricos de forma contínua e autônoma, incluindo a implementação de outras tecnologias ambientais complementares”, conclui Viviane.
As inovações que encontramos em Tamera nos mostram como a gestão cuidadosa e estratégica da água e do solo pode ter um impacto positivo nas condições socioambientais. Estamos animados em aplicar esses conhecimentos também em projetos futuros, fazendo uso destas práticas sustentáveis, podemos caminhar em direção a um mundo mais saudável e possível para as futuras gerações.