A COVID 19 pegou a humanidade de surpresa!
Estamos ainda no meio do furacão tentando reagir e entender os impactos sobre a saúde e a vida das pessoas. Empregos sendo perdidos, negócios aniquilados, consequências devastadoras sobre o aumento da pobreza e da desigualdade social, além da escassez de recursos investidos em programas de sustentabilidade.
Este vírus impactou todo mundo
Escancarou a dependência que temos no outro próximo, para não nos contaminarmos, mas também no outro distante, para abastecimento de bens de primeira necessidade como medicamentos produzidos na Índia, equipamentos médicos da China etc. Pessoas estão dependendo de doações para se alimentarem, para sobreviverem.
Cientistas alertam que isso é só o começo
As mudanças climáticas tanto alardeadas e que vêm provocando crises localizadas se agravarão. Esta pandemia é um primeiro sinal, mostrando que os impactos podem sim acontecer de uma só vez tomando formas diferentes, como a falta de alimentos, as crises sanitárias e a falta ou excesso de água.
O que precisamos mudar para revertermos esta situação?
Há urgência em agir de fato! Dados claros nos são passados todos os dias, a população não cessa de aumentar, os modelos de consumo e produção pressionam o planeta e estão comprometendo a sua resiliência a pressões às quais ele é submetido. A extração de matérias primas não considera o ritmo de reposição dos recursos, o descarte dos produtos/embalagens é tão grande e concentrado em pontos específicos que a terra não consegue processá-los e eles se acumulam gerando impactos terríveis.
Há urgência em produzirmos e consumirmos de forma responsável
As cadeia produtivas precisam ir muito além da geração de riquezas para seus stakeholders, elas precisam fazer uma análise holística dos recursos disponíveis ir para além das caixinhas onde elas estão inseridas e principalmente avaliar DE VERDADE e de forma TRANSPARENTE os impactos gerados ao longo da cadeia, avaliando os riscos, se abrindo para antigas/novas tecnologias, lembrando que o contexto mudou. O que era verdade no início da industrialização NÃO se aplica mais hoje num cenário onde os recursos que até ontem eram considerados inesgotáveis, se veem hoje esgotáveis ou até mesmo esgotados. Recursos básicos como solo, água e ar têm sua qualidade e quantidade cada vez mais comprometidos.
Princípio de Precaução
É necessário voltar às origens das nossas aulas de biologia e relembrar das interligações que asseguram estes recursos que eu chamo de recursos alicerce. Sem eles não conseguiremos nos manter no planeta. Por isso, é imprescindível que ao longo de todas as cadeias produtivas, antes de serem aplicadas, passemos a recorrer ao Princípio de Precaução, avaliando todos os impactos e caso algum risco seja identificado sem que uma ação de correção factível seja implementada simultaneamente, esta cadeia não deverá ser implementada ou deverá ser ajustada de forma que ela não gere nenhum impacto negativo.
Diversificar ao invés de especializar
Ao aplicar este conceito de forma holística é possível visualizar que o modelo a ser priorizado torna-se um modelo econômico diversificado, onde a especialização já não é bem-vinda. Modelos diversificados, ao contrário dos especializados, permitem uma otimização do uso e gestão de todos os recursos (humanos, logísticos, naturais, energias renováveis, resíduos), reduzindo os impactos negativos, aumentando a resiliência local em situações de crise. Esta eficiência local dispensa recursos externos gigantescos usados na manutenção de estruturas faraônicas e ineficientes quando inserida no sistema como um todo.
Este “novo” modelo tem como alicerce a diversificação que valoriza recursos locais, aumentando a sua resiliência em relação aos modelos especializados que mostram uma inércia em situação de crise pela pouca flexibilidade que apresentam.
Podemos exemplificar esta situação com os modelos agroflorestais, em que a diversidade de espécies otimiza o recurso mais abundante e gratuito: O SOL. O resultado é um equilíbrio entre as espécies produzidas, uma produção diversificada que gera, ao longo do ano, alimentos, madeira e outros e serviços ecossistêmicos como água e solo para benefícios da sociedade como um todo.
Outro exemplo bem ilustrativo são as pequenas empresas familiares que, na maioria das vezes, atuam em vários negócios simultaneamente e em situação de crise conseguem incorporar membros da família que perderam seu emprego ou sua fonte de renda.
Mudança necessária
Modelos industriais deveriam trazer para suas estratégias este conceito de impactos positivos para a sociedade e trabalhar com este foco. Um modelo que entre efetivamente em um ciclo regenerativo, reduzindo suas dependências com o global, contribuindo com a comunidade local e trazendo maior estabilidade para o todo. Ou seja, repensar o seu papel na escala local considerando o novo contexto econômico ambiental planetário.
Durante o webinar “Covid-19 e Clima: Como estão conectados?”, promovido para Rede Brasil do Pacto Global, Carlos Afonso Nobre abordou os impactos da pandemia no enfrentamento das mudanças climáticas e refletiu sobre a necessidade de rever a nossa atual economia primária, que só retira os recursos da terra. Ao finalizar, disse que para sair dessa crise a recomendação é uma parceria do setor privado para uma reindustrialização e apoio aos governos, que sairão da crise endividados. “Essa é a oportunidade”.
Helene Menu
Consultora em sustentabilidade e Biodiversidade